Feiras e Mercados locais

Frescos frescos e mais frescos são os pensamentos que ocorrem a quem frequenta as diversas feiras ambulantes e mercados regionais espalhados por Portugal. Nestes centros de comércio local pratica-se os princípios mais básicos da Dieta Mediterrânica e há quem diga que uma ida semanal ao Mercado Municipal previne muitas idas ao médico. A expressão “nós somos o que comemos” nunca fez tanto sentido e claramente nestes locais constroem-se pessoas saudáveis, que comunicam e desenvolvem relações interpessoais sem caixas automáticas self-service ou com leituras de rótulos para encontrar o ingrediente mistério.

Aqui, uma batata é isso mesmo, uma batata! Tal como o feijão, a fruta, os cereais, o peixe, os ovos e tantos outros alimentos que são apresentados na sua forma mais pura e integra. Assim o foi por muitas e muitas centenas de anos. Uma relação estreita entre o comprador, o vendedor e a produção, de tal forma que muitas vezes o próprio vendedor é também o produtor e podemos perguntar tudo e mais alguma coisa sobre a origem dos alimentos que pretendemos comprar. Não existe maior transparência nem melhor aconselhamento. 

Comprador: Bom dia Sr. António. O que tem para mim hoje?

Vendedor: Bom dia Miguel. Tenho boas nabiças e ouvi dizer que na banca da peixaria têm lá uma sardinha do melhor! 

Resta dizer que exemplos de comunicação como esta não são tão comuns em grandes superfícies, nem seria fácil de aplicar os princípios de convivialidade típicos do mercado local ou de uma pequena mercearia. O lema fast-buy, fast-food, fast-life (compras rápidas, comidas rápidas, vida rápida) não se alinha perfeitamente com o modo de vida tradicional mediterrânico e isso acaba por gerar algum desapego das faixas etárias mais novas que estão habituadas a embalagens estilizadas e poucas conversas no ato da compra.

Fotografias das diferentes bancas vendedoras de alimentos no Mercado Municipal da Mina de Água (Amadora)

João Lourenço, Leonor Cardoso, A cerejinha - Hortofrutícolas;

Gostos do mar, Lda - Peixaria;

Loja dos frangos - Talho. 

Num estudo realizado em 2020, constatou-se que apenas 26% da população Portuguesa demonstra elevada adesão à dieta mediterrânica e que na maioria dos casos não se atinge os mínimos recomendados no consumo de hortofrutícolas, leguminosas e frutos oleaginosos. Será que este afastamento dos princípios que regem uma dieta de excelência está relacionado com o estilo de compra rápida? Será que não é importante investir um pouco de tempo para que façamos as melhores escolhas? E o aconselhamento do vendedor local? Que nos diz “Então não quer levar um tomatinho, uma alface ou uma cebola para a salada do almoço?”. Não será este um conselho para a promoção de uma óptima qualidade de vida?

São tudo questões pertinentes e que devem ser prontamente endereçadas. A urgência advém do atual estado de saúde da população Portuguesa, que se projeta a chegar aos 39% de Obesidade em 2035, com uma subida anual de 2.8% para adultos e 3.5% para crianças, segundo o relatório de 2023 da Federação Mundial de Obesidade. 

Mas é possível fazer a diferença pela positiva, para o nosso bem-estar, para a sustentabilidade ambiental e para subsistência do comércio alimentar local. E não precisa de ser uma mudança drástica caso não esteja habituado a fazer compras nestes locais ou seja logisticamente difícil. Basta calendarizar uma ou duas visitas por mês ao comércio local e começar aos poucos a familiarizar-se com um estilo de compra mais tradicional. O segredo não é fazer tudo de uma vez, mas sim o de integrar lentamente novos hábitos na sua rotina diária para que os possa manter com consistência.

Agora não se esqueça de levar o saquinho de pano. Os vendedores e o meio ambiente agradecem.

Autor: Nutricionista Dr. Miguel Antunes 3987N

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